terça-feira, 5 de novembro de 2013

Portugal acumula até 250 milhões de sacos plásticos por ano no ambiente.














 Fonte: Publico
Cada português utiliza em média 466 sacos de plástico por ano, segundo a Comissão Europeia

Entre 83 e 250 milhões de sacos plásticos de compras escapam à reciclagem, aos aterros ou aos incineradores em Portugal todos os anos, segundo contas do PÚBLICO com base em dados da indústria. Esta é, em valores aproximados, a contribuição nacional para um problema que a Comissão Europeia quer minimizar através de novas normas.
Uma proposta de directiva ontem apresentada por Bruxelas obriga todos os Estados-membros a fazerem mais para reduzir o recurso a sacos que se utilizam uma só vez. Dos quase 100.000 milhões de sacos de compras que os europeus trazem para casa todos os anos, cerca de 8000 milhões são atirados para a rua, para os campos, para os rios ou para o mar, segundo a Comissão.
Em média, cada europeu utiliza 198 sacos plásticos por ano, quase quatro por semana. Mas há uma grande variação entre os países. Na Dinamarca e na Finlândia são apenas quatro por ano por pessoa. No outro extremo estão oito Estados-membros, incluindo Portugal, com uma estimativa teórica de 466 sacos por ano, a que a Comissão chegou por extrapolação a partir de países para os quais há estatísticas fiáveis.
Dados da indústria sugerem uma realidade diferente. Em Portugal serão utilizados, anualmente, cerca de 20.000 toneladas de sacos, segundo a Plastval, a sociedade que gere a reciclagem dos resíduos de plásticos no país.
Como cada saco tem entre seis a 12 gramas, serão entre 1667 e 3333 milhões de sacos por ano, ou 159 a 318 por pessoa. Dados da Valorsul, a empresa que gere os lixos da região de Lisboa e do Oeste, mostram que os sacos representam 6% de todos os resíduos em bruto e 9% do que vem dos ecopontos.
Segundo Rui Toscano, presidente da Plastval, metade dos sacos utilizados no país é reciclada e mais de 40% são tratados pelos sistemas de gestão de lixo, sobretudo pela incineração. Restarão entre 5% e 7,5% com destino incerto. Feitas as contas, os sacos que são deitados em qualquer lado ou simplesmente desaparecem estarão entre 83 milhões (se se considerar que todos os sacos têm 12 gramas e a taxa de desvio for de 5%), ou 250 milhões (sacos de seis gramas, 7,5% de desvio).
"O problema em si não é do material, é do comportamento das pessoas", diz Rui Toscano. "O saco plástico é uma embalagem que permite facilitar o dia-a-dia", completa.
Em peso, os sacos que escapam a um tratamento adequado em Portugal somam 1000 a 1500 toneladas - uma fracção mínima dos 4,3 milhões de toneladas de lixo produzidos por ano no país. Mas os efeitos dos sacos no ambiente têm grande visibilidade. Animais marinhos estrangulados ou sufocados por plásticos são uma imagem de marca da poluição marinha. "Uma vez descartados, os sacos plásticos podem durar centenas de anos", alerta a Comissão Europeia, num documento divulgado ontem.
"Estamos a agir para resolver um problema ambiental muito sério e altamente visível", afirma Janez Potocnik, comissário europeu do Ambiente, num comunicado.
O que a Comissão propõe é que os Estados-membros façam mais para evitar o uso dos sacos mais leves, com até 0,05 milímetros de espessura, como os distribuídos nos supermercados. Para tal, Bruxelas propõe uma alteração a uma directiva já existente sobre os resíduos de embalagens, obrigando os países a, no prazo de dois anos, "tomarem medidas para alcançar uma redução no consumo de sacos plásticos".
"Estas medidas podem incluir a utilização de metas nacionais de redução, instrumentos económicos e também restrições de mercado", acrescenta a proposta.
Na prática, Bruxelas sugere que sejam os países a definir como vão agir. Há várias iniciativas já em vigor. Na Dinamarca, o uso dos sacos caiu drasticamente desde que entrou em vigor uma taxa, em 1994, paga pelos supermercados.
A ideia de uma taxa chegou a ser estudada durante o último Governo do PS, em 2007. Mas foi abandonada, sob pressão da indústria e dos hipermercados.
A proposta da Comissão Europeia vai agora ser discutida com o Parlamento e com os governos, antes de ser ou não aprovada.